
O comportamento do consumidor de pescado tem seguido caminhos opostos em duas potências globais: Japão e Brasil. Enquanto os japoneses reduzem cada vez mais o consumo de frutos do mar — reflexo de mudanças culturais e econômicas —, os brasileiros impulsionam uma expansão constante, apoiada pela aquicultura e pelo fortalecimento do mercado gastronômico.
Mercado japonês: consumo em queda
O Japão enfrenta, há vários anos, uma forte queda no consumo de pescados, o que traz incertezas quanto ao futuro cultural do consumo de frutos do mar no país.
Segundo notícias do site UCN-Undercurrentnews, a última pesquisa domiciliar divulgada por instituições governamentais japonesas confirma que a desaceleração no consumo continua neste primeiro semestre de 2025.
Em resumo, o consumo per capita de pescados no Japão em 2023 foi de 20,4 kg — uma queda de 49% em comparação com o índice de 2001, quando o pico de consumo atingiu 40,2 kg per capita ao ano. As informações foram extraídas do Fisheries White Paper 2025, elaborado pela Country’s Fisheries Agency.
Neste contexto, dois fatores se destacam nessa redução: o aumento dos preços em relação a produtos alternativos e o impacto da ocidentalização dos costumes. Tomando como base o índice de preços ao consumidor (ano-base 2000 = 100), o IPC de agosto de 2025 foi de 112,1. Para frutos do mar em geral, o índice chegou a 130.
Ainda sobre o cenário japonês, pesquisas recentes realizadas com japoneses que não consomem ou consomem pouco pescado indicaram:
45,9% das famílias têm preferido carne, principalmente de frango e suíno, em detrimento ao pescado; 42,1% afirmam que o pescado está muito caro; 38,0% apontam o incômodo no preparo como o principal motivo para evitar o consumo.
Já entre as famílias que consomem pescado, 75,7% o fazem por considerá-lo bom para a saúde ao passo que 51,8% o consomem por acharem saboroso.
Envelhecimento e mudanças de consumo
Em 2023, o consumo de frutos do mar no Japão também mostrou uma diferença significativa entre faixas etárias, com pessoas acima de 60 anos consumindo quase o dobro em comparação às pessoas na faixa dos 30 anos. Além disso, as famílias estão mudando a forma de consumir pescados, reduzindo a compra tradicional de produtos frescos e aumentando a preferência por itens processados, congelados ou prontos para consumo, além de intensificarem o consumo fora de casa.
A força de trabalho na pesca também vem apresentando queda significativa, passando de 197 mil trabalhadores em 2000 para 123 mil em 2023, sendo que mais de 60% desses trabalhadores têm mais de 60 anos. Aqui, fatores como o aumento dos preços dos combustíveis, capturas voláteis e infraestrutura envelhecida têm contribuído para a redução da lucratividade da atividade, resultando em menor interesse econômico no setor.
Paralelamente, a autossuficiência na captura interna caiu para 54%, o que significa uma dependência externa de 46% e um impacto direto do câmbio e de fatores internacionais sobre o custo final para o consumidor.
Brasil: um panorama totalmente oposto e distinto
O consumo per capita de pescado no Brasil cresce de forma consistente há vários anos, sustentado principalmente pela aquicultura nacional. Em 2024, o consumo atingiu 12,2 kg per capita — um recorde nacional nesse indicador. Para 2025, as condições atuais já apontam para um consumo estimado em 12,6 kg.
Neste ponto há, claramente, um boom gastronômico baseado em pescados na cadeia de food service, além do lançamento de diversos produtos de conveniência no varejo, que vêm impulsionando o consumo local.
Embora ainda não haja pesquisas específicas sobre a faixa etária dos novos consumidores de pescado, é provável que a concentração esteja entre pessoas com menos de 40 anos.
Comparativo Japão X Brasil
Em 2001, o consumo de pescados no Japão superava em 33,4 kg per capita o consumo registrado no Brasil.
Com o passar dos anos, essa diferença diminuiu significativamente: em 2023, estava em 8,6 kg per capita, e as projeções para 2025 indicam que deve cair para menos de 6 kg per capita, aproximando cada vez mais os padrões de consumo entre os dois países. (Por Wilson Santos, engenheiro industrial químico e consultor)
Fonte: seafoodbrasil.com.br
Postado em 10-10-2025 à42 16:01:42