Impactos das tarifas norte-americanas no comércio global de pescado

O setor pesqueiro e aquícola internacional atravessa um momento de profunda reorganização. A retomada da política tarifária protecionista pelo ex-presidente Donald Trump, com foco especial na China, está redesenhando rotas, contratos e fluxos comerciais globais.

Em resumo, as novas tarifas têm impacto imediato no equilíbrio entre oferta e demanda, alterando a competitividade dos países exportadores e exigindo respostas estratégicas dos mercados consumidores. No entanto, o Brasil, menos impactado pelas medidas tarifárias, assume um papel relevante nesse novo cenário, tanto como destino de excedentes quanto como fornecedor alternativo para produtos específicos.

O anúncio de novas tarifas nos EUA provocou uma queda expressiva nos preços do salmão na Noruega, com redução de NOK 10 por quilo na semana 13 de 2025, reflexo do aumento das exportações antes da aplicação das tarifas, prevista para 9 de julho. Na Escócia, por exemplo, representantes do setor pressionam o governo britânico por estabilidade nas relações comerciais com os EUA.

Já no Chile, os embarques destinados ao mercado americano começaram a ser redirecionados, levando à redução dos preços no mercado brasileiro já na semana 15.

Impactos para o Brasil

No nosso contexto nacional, com preços em queda e a necessidade de escoar a produção anteriormente destinada aos EUA, os exportadores chilenos devem intensificar sua presença no Brasil. O setor de foodservice, especialmente a culinária japonesa, será o primeiro a perceber os efeitos, mas o varejo também tende a se beneficiar, já que o salmão é frequentemente usado como produto âncora em campanhas promocionais e para estimular o consumo de proteínas no lar.

Tilápia: desafios na China e atenção ao mercado brasileiro

As novas tarifas impostas pelos EUA, em resumo, reduziram significativamente o espaço da indústria chinesa de tilápia em seu principal mercado. Sendo assim, pequenos e médios produtores, especialmente na ilha de Hainan, já enfrentavam dificuldades devido a regulamentações ambientais e ao impacto do tufão Yagi (2024). Ou seja, agora, eles lidam com estoques elevados e dificuldades de adaptação às novas exigências ambientais e sanitárias.

Porém, embora o comércio não deva cessar totalmente - dado que não há alternativa imediata à tilápia chinesa em larga escala -, o Brasil pode se beneficiar dessa reconfiguração, tornando-se um destino estratégico para o pescado asiático.

Atenção ao mercado nacional

Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de tilápia, em síntese, o Brasil pode enfrentar pressão de uma oferta externa mais agressiva, sobretudo de países como China e Vietnã. Neste contexto, os impactos incluem:
- Preços mais baixos para o consumidor final, favorecendo a moderação da inflação da proteína;
- Risco de redução nas margens da cadeia produtiva nacional, especialmente nos estágios de engorda e processamento.

Camarão: mudança de liderança nos EUA abre espaço para o Brasil

As tarifas americanas ainda impactaram severamente a exportação de camarão da China, especialmente no segmento de produtos empanados, agora submetidos a tarifas de até 45%. Sendo assim, pequenas e médias empresas relatam paralisações e ajustes logísticos.

Já a Índia, também afetada (com tarifas previstas para subir a 26%), enfrenta incertezas no mercado, com milhares de containers aguardando definição tarifária. Ou seja, nem mesmo a redução de preços conseguiu mitigar o impacto.

Brasil em posição vantajosa

Com uma tarifa de 10% para exportações aos EUA, o Brasil está em posição privilegiada, ao lado do Equador. Este cenário cria oportunidades para indústrias brasileiras já posicionadas em produtos empanados expandirem contratos no mercado norte-americano.

Pangassius: Vietnã avança, mas cenário no Brasil ainda é incerto

Empresas vietnamitas como Vinh Hoan e Sao Ta Foods vêm se destacando diante da desvantagem tarifária enfrentada pela China. Ou seja, o setor logístico do Vietnã também se beneficia com o aumento das exportações, atraindo investimentos estrangeiros.

Mercado brasileiro em observação

Ainda é cedo para estimar os impactos diretos no Brasil. Afinal, dependendo da capacidade do Vietnã em atender à demanda dos EUA, excedentes poderão ou não ser redirecionados para o mercado sul-americano. Por ora, não há evidências consistentes de alterações significativas no fluxo comercial entre os dois países.

Conclusões e recomendações estratégicas

- Em resumo, o Brasil é um mercado-chave, tanto como consumidor (salmão, tilápia) quanto como fornecedor alternativo (camarão e empanados).

- O aumento da oferta global de salmão favorece os consumidores brasileiros, mas pressiona a margem de distribuidores e importadores, especialmente em contratos de longo prazo.

- Os setores nacionais de tilápia e camarão, em síntese, devem focar na agregação de valor e diferenciação de produtos para enfrentar a entrada de pescado asiático a preços competitivos.

- Empresas brasileiras de produtos processados e empanados têm grandes oportunidades de expansão no mercado norte-americano, graças às altas tarifas sobre concorrentes asiáticos.

- O comportamento do setor vietnamita será crucial para definir cenários futuros no mercado de pangassius – para isso, é preciso acompanhar de perto os dados do Siscomex!

Fonte: seafoodbrasil.com.br/ Foto: Shutterstock



Postado em 02-05-2025 à26 11:30:26

Associe-se à ABRAPES!

Entre em contato conosco e associe-se à ABRAPES!
Endereço: Av. Paulista 1765, 7º andar, Conj. 72 CV: 8532 - Bela Vista, São Paulo/SP
CEP: 01311-200
Telefone: +55 11 5105 8269
E-mail: contato@abrapes.org


Associação Brasileira de Fomento ao Pescado - ABRAPES

A ABRAPES é composta por indústrias, importadores, exportadores, distribuidores, tradings e varejistas, todos unidos em prol do desenvolvimento do setor de pescado.